Alexandre Camillo apresenta sua visão sobre as demandas do mercado

Foco em uma gestão produtiva que ofereça estabilidade para o setor se desenvolver

Em conversa exclusiva com a Revista Cobertura, Alexandre Camillo, novo superintendente da Susep, apresenta sua visão sobre as demandas do mercado e os rumos do órgão regulador em sua gestão.

Alexandre Camillo

Revista Cobertura – Como você avalia o cenário em que encontrou a Susep? Como vê o corpo técnico da autarquia, se vai precisar de ajustes? Há técnicos suficientes para atender todo o mercado de seguros, que está crescendo com novas seguradoras, insurtechs? Como vai ser o relacionamento com o Ministério da Economia para, se necessário, ampliar esse corpo técnico?

Alexandre Camillo – Pude perceber o momento da Susep, saber que tem um ótimo quadro de servidores, capacitados e aderentes às orientações que vêm da diretoria. O quadro de servidores infelizmente é de fato pequeno para o tamanho das demandas, basta lembrar que o último concurso público realizado pela Susep foi em 2011, ou seja, são 10 anos sem a inclusão de novos servidores e nesse meio tempo houve aposentadorias, cessões para outros órgãos, entre outras saídas. Nosso relacionamento com o Ministério da Economia tem sido próximo, dando demonstrações da importância do setor de seguros.

Revista Cobertura – O que tem sido feito neste início de gestão? Qual a transformação que pretende junto ao mercado?

Alexandre Camillo – Neste início estou primeiramente me contextualizando de tudo, o próprio funcionamento da máquina pública não era do meu conhecimento. Estou me inteirando sobre as atuações de cada diretoria (temos quatro diretorias técnicas, com focos de atuação distintos) para poder avaliar as ações realizadas de sucesso, que têm de ser continuadas; as ações já realizadas e que podem passar por algumas alterações ou ajustes; e a minha agenda própria, aquilo que entendo que tem que ser levado ao mercado. Tudo isso tem impacto no fomento ao desenvolvimento do setor, que é meu grande objetivo, sempre pautado no diálogo, no relacionamento respeitoso e na confiança para que essa seja a grande transformação, que é criar uma estabilidade no mercado, para que possa se desenvolver de maneira segura, sem sobressaltos.

Revista Cobertura – Qual vai ser o protagonismo do corretor de seguros tendo um ex-corretor à frente da superintendência?

Alexandre Camillo – O protagonismo do corretor de seguros depende somente dele, da contínua prestação de serviços de qualidade, comprometida, da relação de confiança que ele tem com o cliente. Da minha parte continuarei destacando e ressaltando as qualidades do corretor de seguros, mas quem produz isso é o próprio corretor, ele é o senhor do seu protagonismo. Vou deixá-lo cumprir seu papel, ou seja, levar um pouco de tranquilidade ao corretor para poder dar continuidade a esse protagonismo pautado em seu profissionalismo.

Revista Cobertura – Como você vê o open insurance, que tem até o fim do ano para ser implementado, e tem a figura das SISS? Pretende mudar algo do que vinha sendo feito? Quais os desafios e oportunidades do open insurance?

Alexandre Camillo – O open insurance é uma realidade da transformação das relações comerciais de hoje em dia, da transformação dos hábitos de consumo das pessoas. Hoje a palavra da vez é justamente informação, então o open insurance busca propiciar ao consumidor a abertura de suas informações para seu meio de relação comercial (banco, mercado financeiro, seguros). Esse é um movimento feito com certa naturalidade por essa evolução de mudança de hábitos. O estado tem que estar atento a isso, ao que a sociedade demanda, tentando organizar este cenário por meio de atos de seus órgãos reguladores, como é o caso da Susep, do Banco Central. Esse é o papel do estado, estar atento aos comportamentos da sociedade e garantir ambiente seguro para esse novo comportamento. Por isso vamos manter o open insurance, não tem como querer refrear, esse movimento não é somente do Brasil, tem similares mundo afora, apenas quero, se necessário, alguns ajustes que façam com que os atores do mercado sejam aderentes ao processo e ajudar na consolidação do open insurance, assim como está acontecendo com o open banking, o open finance. A questão das SISS é uma das situações do open insurance que traz muita dúvida, muita incerteza ainda, e aí sim é ruim, porque gera uma certa refração do mercado, então vou de fato avaliar o posicionamento das Sociedades Iniciadoras de Serviço de Seguro para ter esse processo bem compreendido e ajustado dentro desse entendimento do mercado.

Revista Cobertura – Como você vê as outras superintendências de seguros ao redor do mundo e o que pode tropicalizar para o nosso mercado?

Alexandre Camillo – Ainda não tive tempo para estabelecer esse paralelo de visão de outros agentes reguladores, qual o comportamento deles, se atuam de maneira principiológica como nós, mas é algo sobre o qual, sem dúvida, irei me debruçar. Certamente as diretorias aqui na Susep têm essas referências que ainda não trouxe para mim.

Revista Cobertura – Como você vê o futuro da distribuição de seguros no Brasil? Como se dará a evolução dos canais – corretores, plataformas digitais, bancassurance, assessorias, vendas diretas, agentes de seguros e demais marketplaces?

Alexandre Camillo – Entendo que tem espaço para todos, principalmente quando enxergamos o enorme potencial do nosso mercado – quanto mais levarmos oferta para o cliente, maior a possibilidade de avanço do setor, especialmente para a parcela da população que ainda não viveu a experiência de ter um bem garantido pelo seguro. Já temos a convivência dessa pluralidade de distribuição e assim irá continuar, cabe ao consumidor definir suas opções, por quais vias quer adquirir o seguro. Nesse sentido os corretores de seguros, apesar de toda essa pluralidade de meios de distribuição, continuam reconhecidos aos olhos do consumidor como a forma mais adequada, por capacidade, por comprometimento dos profissionais e até pela complexidade que tem o produto seguro.

Revista Cobertura – De que forma sua gestão na Susep será diferente no relacionamento com o mercado em comparação às gestões anteriores? A autarquia já foi liderada por corretores, seguradores, consultores, técnicos, políticos… O que um líder que conhece o maior mercado de seguros do Brasil, que é São Paulo, pode agregar para o desenvolvimento do mercado de seguros brasileiro?

Alexandre Camillo – Vou pautar minha gestão com olhar para frente e fazendo uso das minhas características pessoais, que me trouxeram até aqui. Tenho uma experiência do mercado que tenho que colocar a serviço das minhas decisões na Susep, na relação com os servidores, na argumentação das ideias. Uma das minhas características sabida por todos é essa busca pelo diálogo, pela conciliação, pelo consenso com relação às definições, ainda mais que não tenho mais o “chapéu” de corretor ou segurador (que também já fui), mas respondo por todos, então minha atuação é totalmente imparcial. Sim, a autarquia já teve essa diversidade de gestores e por isso que eu vou atuar olhando para frente pautado nas minhas características. Trago uma experiência de dia a dia de seguros junto à sociedade que pode ser muito saudável na construção de decisões aqui na Susep. A última gestão era pautada somente por servidores públicos, não estou dizendo que é errado, mas eu trago essa vivência do dia a dia, da relação do consumidor com seguros, dessa cadeia de corretor com seguradora. Conheço isso muito bem e pode me ajudar muito nas decisões, compartilhar esse meu conhecimento com o quadro técnico para chegarmos o mais próximo possível com o que de fato é bom para o consumidor, especialmente nesse momento em que a Susep está bem direcionada para atos tendo o consumidor como figura central. A experiência de um mercado pujante como São Paulo é, sem dúvidas, de muito valor, tenho que fazer uso desse conhecimento.

Revista Cobertura – Com essa expertise, mas com o ponto de vista de profissional do mercado, como fazer uma gestão inovadora?

Alexandre Camillo – Hoje tudo é pautado em inovação, mas meu foco é uma gestão produtiva, de resultado, que dê ao mercado estabilidade para o mercado entender quem é o consumidor atual e os novos desejos de produtos de seguros, oferecendo isso à sociedade. A autarquia tem que promover o mercado neste mercado estável, esse é um marco que quero ter na minha gestão, não tão preocupado com a questão de ser inovadora, quero fazer uma gestão em que as mudanças sejam compreendidas por todos, consensuadas – nem sempre se tem a concordância, mas que sejam compreendidas e consensuadas. Criar este ambiente estável também é se tornar atraente para novos entrantes, quer sejam novas seguradoras, resseguradoras, corretores, porque o mercado tem potencial, basta criar esse ambiente propício e receptivo ao desenvolvimento. Não vejo tanto como inovação, mas como consolidação, equacionamento das ações. Às vezes o que falta no mundo é a efetividade, busca-se tanto a inovação e não se completa nenhum ciclo de propostas de projetos, os processos ficam inacabados. Estamos trabalhando em algumas ações, mas não posso adiantar ainda. Se tivermos um ambiente de pacificação, deixando para trás o momento em que tudo conspirava contra o mercado, já será uma grande conquista.

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