CEO da Mapfre Global Risks comenta os novos desafios para o mercado

Perante a um cenário de alta taxas de juros e de inflação, revisões de contratos e de franquias são necessárias, segundo o CEO da MAPFRE Global Risks, Bosco Francoy

Bosco Francoy

No Brasil, Bosco Francoy, CEO da MAPFRE Global Risks, concedeu uma entrevista exclusiva à Cobertura Mercado de Seguros. Na ocasião, ele falou sobre o cenário global para os grandes riscos, os motivos pelo declínio do mercado na aceitação de alguns e os compromisso públicos assumidos pela companhia e que tem contribuído para o aprimoramento dos segurados.

“Hoje, o cenário é bem desafiador. Estávamos saindo da pandemia, ela trouxe situações particulares para diferentes setores, alguns foram muito afetados, como a aviação e a hotelaria, alguns setores industriais sofreram mais e outros até que foram favorecidos como o da infraestrutura e da construção civil. Os impactos foram diferentes por setor. Teve um aprendizado que a gente conhecia mas não era tão importante nos clausulados e deu para revisar e reavaliar as exposições”, afirmou.

Uma das grandes exposições, disse o executivo, refere-se aos ataques cibernéticos. “Inclusive, a Mapfre sofreu um ataque muito grave no dia 15 de julho de 2020. A nossa reação foi muita rápida, continuamos a dar serviços e nos recuperamos muito rápido do ataque. Isso é o que aconteceu na pandemia com o trabalho remoto, a fraqueza dos sistemas, isso ativou muito a exposição e o mercado de cyber ficou bem restrito em termos de capacidade e de redução de limites, o que criou uma pressão muito grande nas companhias”.

O lado positivo, segundo ele, foi o trabalho remoto ter gerado um avanço mais rápido do que o esperado na digitalização das companhias e as defesas delas pelos riscos foram aprimorados. Sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, “a Mapfre tem uma exposição quase zero nos dois países, portanto, na parte de seguros não temos uma grande preocupação. O que nos preocupa é que os impactos no mercado financeiro, taxa de juros e inflação podem trazer uma pressão na parte tão importante para as seguradoras que é os investimentos”.

Falta de insumos – Sobre a falta de insumos e componentes que persiste no mercado, Francoy explicou que o impacto maior é para as coberturas de lucro cessante. “Em primeiro lugar, custos maiores e a inflação desajustam essas coberturas. Hoje as margens mudaram, elas são maiores, e se não readaptar o limite da cobertura, ela ficará restrita e não completa do risco. Fazer essa reavaliação trará uma procura maior por limites pelo seguro”.

Outro ponto é a questão das franquias e dos sinistros. “As franquias precisam ser reavaliadas, elas ficaram desatualizadas, pois hoje ela é maior pelos custos. Na parte de sinistros, a quebra da cadeia de suprimentos faz com que os tempos da reparação sejam maiores e o lucro cessante aumenta também. Custos maiores trazem uma maior indenização de sinistros”.

Declínio de riscos – “A partir de 2004, começou um mercado soft, cada vez mais reduzindo os preços e as condições, mas o mercado de resseguro voltou a reavaliar as políticas de subscrição e isso trouxe um aperto nas condições dos programas de resseguros. Isso tem feito com que algumas atividades que no passado conseguiam cobertura, hoje tenham muito mais dificuldade pela falta de apetite do mercado. Às vezes não é questão do preço, mas sim de capacidade”.

Uma situação que é difícil de ser explicada para o cliente que conseguia a cobertura. “O perfil da Mapfre é bem técnico, ela faz a avaliação e as recomendações para mitigar o risco, só que tem atividades as quais os clientes perguntam para que fazer tudo isso se eles não conseguem o seguro? Não é só uma questão de fazer um seguro melhor, na visão da Mapfre, o seguro serve para repor o sinistro, mas o prejuízo de ficar parado por cinco meses, por exemplo, é pior do que a solução oferecida pelo seguro”.

Compromissos públicos – Dentro dos compromissos públicos da Mapfre, a ele citou o crescimento responsável, também em termos de eficiência e inovação. “Temos o objetivo claro de continuarmos crescendo a operação de riscos globais, que hoje deve ser em torno de 7% do grupo em termos de prêmios, o que está bom, pois não temos a ambição de ser a maior unidade do grupo, a maior é a de seguros, mas temos esse apetite de ter essa posição adequada ao tamanho da Mapfre nos mercados”.

Nesse sentido, Francoy destacou que o mercado brasileiro tem um grande potencial. “O Brasil é um país continental, tem muitas operações e a Mapfre é a seguradora que pode fornecer soluções para esses mercados. Um dos sinais da Mapfre é o comprometido com o cliente ao longo prazo, então, o nosso crescimento também tem a ver com esse modo de nos relacionarmos com ele”.

Também no plano estratégico da Mapfre está a sustentabilidade. “A nossa área lida com atividades que tem muita exposição e a Mapfre também fez um compromisso público de não segurar atividades de óleo e gás e energia, que não tenham um plano de transição energética para energia mais limpa ou para atender outros objetivos, como o acordo de Paris. Na nossa atividade, a gente avalia os clientes para principalmente para cumprirmos com esse nosso compromisso e para colaborar também com essa nova realidade. Avaliar e exigir dos clientes esse compromisso com o mundo”.

Patricia Siequeroli

Estrutura – Patricia Siequeroli, diretora de Seguros Gerais e Grandes Riscos da Mapfre Brasil, participou do encontro e destacou um diferencial do grupo. “A Mapfre tem uma capacidade de emissão de apólices país por país, mas em um universo global, o que é uma das nossas fortalezas e nos diferenciamos muito de alguns players. Um cliente global que está em vários países pode ter sua emissão global e conseguimos também dar suporte para isso”.

E também sobre a equipe dedica a grandes riscos. “Ela segrega entre riscos locais e riscos globais. A equipe de riscos globais é uma extensão da equipe que temos na Espanha, com pessoas especialistas por tipo de risco: energia, infraestrutura, aéreo, transporte, óleo e gás. É quase um par da equipe que tem na Espanha. Eu tenho os subscritores aqui no Brasil e tem também toda a equipe de sinistros para o atendimento, o que dá a garantia e a qualidade do serviço, pois quando falamos de seguro, no fundo, a qualidade da entrega está no atendimento da necessidade do sinistro”, afirmou.

O foco, de acordo com ela, está nas parcerias a longo prazo. “A Mapfre tem como perfil buscar operações a longo prazo, vemos a perenidade no trabalho em conjunto, tanto do aprimoramento do risco como da qualificação para o bem da operação. É um processo de longo prazo e isso rege muito a maneira de trabalho que temos internamente, com o broker e com o cliente. Se ele tem um problema, nós não o deixamos na mão no ano seguinte, tanto que temos um índice muito alto de renovações de apólices. Também aproveitamos muito o conhecimento de inovação que vem da Espanha para compartilhar conosco”.

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