Dados protegidos com o seguro de riscos cibernéticos

Cresce a procura e a contratação de proteção para as informações digitais, principal ativo das empresas hoje

Thaís Ruco

O Brasil está em processo de conscientização sobre a importância de proteção face aos riscos digitais, e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ajudou a acelerar a adoção de medidas de segurança dentro das empresas e da sociedade como um todo. O crescimento do e-commerce, a necessidade de trabalho remoto como medida de proteção contra a covid-19, as aulas on-line, entre outros fatores, também ampliaram a atuação e a oferta de seguros cibernéticos.

Este produto está em franco crescimento no Brasil, o que é evidenciado pelo aumento exponencial do volume de prêmios emitidos. Segundo a Susep, o total de prêmios emitidos mais que dobrou em pouco mais de um ano, saltando de cerca de R$ 21 milhões em 2019, para R$ 43 milhões em 2020. O avanço do seguro cibernético também é refletido na consolidação de players no mercado – em especial, seguradoras com forte presença em linhas financeiras – e no aumento do apetite do mercado ressegurador.

“O seguro cibernético vem crescendo substancialmente no Brasil a uma taxa de mais de 100% ao ano. Essa é uma perspectiva não apenas local, mas global”, diz Marco Mendes, especialista em Risco Cibernético da Aon Brasil. “Trata-se de um seguro que atinge a marca dos US$ 7 bilhões de prêmio emitido. Além disso, a procura e os questionamentos sobre o seguro só crescem. Podemos observar um crescimento anual de 150% no volume de novas consultas a respeito do seguro desde o fim de 2018”.

Para Marta Schuh, superintendente de Riscos Cibernéticos da Marsh, o mercado está bem aquecido e os clientes perceberam a importância de gerenciar e mitigar o risco cibernético. “Na Marsh a curva de crescimento de demanda pelo produto tem sido de forma exponencial, cerca de 300% se comparado a 2019”.

“No ano passado registramos um crescimento de 101,1% na demanda pelo seguro para riscos cibernéticos, produto que integra nosso portfólio de Linhas Financeiras”, informa Carol Ayub, superintendente de Produtos Financeiros da Tokio Marine Seguradora.

“É natural que, nos próximos anos, essa expansão seja acompanhada da diversificação das coberturas oferecidas, o que pode ser alavancado pela flexibilização das regras aplicáveis a coberturas de grandes riscos e a seguros de responsabilidade civil”, acredita Thomaz Kastrup, sócio do escritório Mattos Filho, responsável pela prática de Seguros, Resseguros e Previdência Privada. Para ele, preocupa apenas o fato de, tendo em vista o aumento no volume de incidentes de segurança cibernética ocorridos desde o início de 2020, esse produto possa entrar no que o mercado chama de “hard market”, decorrente de um aumento significativo na respectiva taxa de sinistralidade.

A LGPD também foi responsável pelo aumento da procura por esse tipo de seguro, da mesma forma como ocorreu na Europa com o advento da GDPR. “Diante da entrada da LGPD, empresas precisam demonstrar ao órgão competente quais dados foram impactados e isso requer o envolvimento de uma empresa de perícia digital o qual o seguro pode custear. Além disso, as empresas precisarão de apoio jurídico e de assessoria para tratar do incidente. Neste caso, a apólice respalda esses custos e tem painéis com prestadores de serviços qualificados para dar uma resposta com maior celeridade”, afirma Marta. Outras coberturas que o seguro ampara são custos relacionados à reconstrução sistêmica, danos a terceiros e possíveis multas incluindo a multa da LGPD desde que não tenha negligência ao cumprimento a lei.

Produto para toda empresa e todo corretor

Qualquer empresa pode contratar seguro para riscos cibernéticos, quer sejam empresas nacionais, multinacionais ou PMEs. “Com o amadurecimento das coberturas disponíveis e a diversificação das seguradoras envolvidas em sua oferta, espera-se que os seguros se popularizem em todos os segmentos econômicos. A avaliação que precisa ser feita pela companhia interessada nesse tipo de produto é a sua exposição a incidentes de hacking e ransomware perante suas atividades e o tipo de informações/documentos que armazena no seu dia a dia”, diz o sócio do Mattos Filho.

“Na Marsh temos clientes de pequeno porte até as super corporações. O impeditivo de contratação a esse seguro se dá na falta de controles adequados ao risco, na não adoção de políticas de segurança de proteção de dados, ferramentas de proteção e processos”, revela Marta, ao frisar que o seguro não é um substituto das melhores práticas de cyber segurança e, sim, aliado no infeliz evento de um incidente incorrer, uma vez que mesmo adotando essas práticas não há 100% de garantias de não se tornar vítima de um cyber criminoso.

O perfil do cliente que busca esse tipo de produto é muito variado. “Na Tokio Marine, por exemplo, nós desenvolvemos o Tokio Marine Riscos Digitais com foco nas Pequenas e Médias Empresas. Porém, este produto também pode ser contratado por companhias de maior porte, uma vez que toda empresa que armazena dados digitais está exposta a riscos. Em nossa experiência, temos percebido o interesse desde pequenas empresas até Sociedades Anônimas, com exposição no mercado de capitais nacional e estrangeiro. Também há grande heterogeneidade na atividade das empresas: desde pequenos escritórios locais até grandes grupos financeiros e petroquímicos”, afirma Carol.

É fundamental que os corretores de seguros busquem aprender sobre o tema, a atuação dos hackers e a legislação em vigor, entre outros pontos. “Ninguém melhor do que o corretor, que desempenha o papel de consultor de proteção, para conscientizar os clientes sobre a necessidade de proteger os ativos digitais da empresa, bem como informações de terceiros e colaboradores”, aponta a superintendente.

Na visão de Thomaz Kastrup a atuação de corretores no ramo de seguros cibernéticos em parceria com especialistas (tais como consultores técnicos e escritórios de advocacia) é altamente recomendável. “Por se tratar de um assunto muito técnico e que está em constante mutação, é importante se especializar e se manter atualizado no tema de proteção de dados, compreendendo as particularidades da cobertura comercializada e os tipos de incidentes de segurança cibernética que podem ocorrer”, justifica.

“O mundo hoje é feito de dados. Eu diria que esse é um dos bens mais valiosos que uma companhia tem”, enfatiza Mendes. “É a partir da informação coletada no dia a dia, com base em suas operações e relações, que uma empresa tem a chance de tomar melhores decisões para seu futuro”. Para aproveitar as oportunidades de negócios, o corretor deve orientar as empresas que ter esses dados comprometidos pode fazer com que tenham que lidar com questões de imagem e confiança, questões regulatórias e, até mesmo, processos.

Conteúdo da edição de abril (230) da Revista Cobertura

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

Anuncie

Entre em contato e descubra as opções de anúncios que a Revista Cobertura pode te oferecer.

Eventos

Próximos Eventos

Mais lidas da semana

Mais lidas