Mercado sente reflexos positivos de retomada da economia

Movimentações de produção aumentam e ampliam demanda para os profissionais que atuam no segmento

Thaís Ruco

A retomada das atividades econômicas faz com o que o seguro de transportes seja mais requisitado, tanto por transportadoras quanto por embarcadores (donos da mercadoria). De acordo com a Susep, os seguros de transportes nacionais tiveram um crescimento de mais de 36% no acumulado até junho deste ano. Outros bons números dizem que, em 2020, a frente de seguros de transportes faturou R$ 3,6 bilhões, contra R$ 2,8 bilhões em 2015 – um aumento de quase 30% em cinco anos – e que a sinistralidade do mercado no ramo de transportes caiu de 52,6% para 45,3% entre janeiro e junho em relação ao ano passado.

O segmento se movimentou muito durante a pandemia, com uma relação quase que imediata conforme as cidades abriam e fechavam. “No início (de março a maio de 2020) foi identificada uma redução de quase 30% nos prêmios emitidos, com recuperação a partir de julho de 2021. Entretanto, finalizou o ano com cerca de 3% de redução em relação aos prêmios emitidos no ano de 2019. Já em 2021, os números dos primeiro seis meses (mesmo com um novo fechamento rigoroso e piora da pandemia no País), os dados da Susep nos demonstram que o setor como um todo (Cargo & Marine) cresceu 35,6% nos primeiros seis meses deste ano”, analisa Ivor Moreno, head Marine e Inovação da Argo Seguros.

Na companhia, especificamente, a carteira de transporte internacional apresentou um crescimento de 30%, com quase R$ 42 milhões de prêmios emitidos, figurando entre as três principais do País. Em transporte nacional, a Argo registrou R$ 44 milhões, uma expansão de 45,1% em comparação ao mesmo período do ano passado, ficando entre as seis primeiras do ranking Susep, com participação de 6,8% do mercado.

“Ainda que a economia esteja instável por conta dos impactos da pandemia, principalmente, entendemos que as empresas se organizaram e o abastecimento, que impacta diretamente nos seguros de transportes, está acontecendo”, avalia Rose Matos, gerente do Porto Seguro Transportes.

Segundo o balanço do segundo trimestre de 2021 da companhia, divulgado em agosto, o Porto Seguro Transportes apresentou um crescimento na receita de 39,3% em relação ao mesmo período no ano anterior e de 9% em relação ao trimestre anterior. “Isso reforça o aumento da busca por esse modelo de seguro. Além da alta dos preços, há um aumento de volume considerável na movimentação de produtos de primeira necessidade, como alimentos, combustíveis e higiene pessoal, e também a alta circulação das vendas efetuadas pela internet”, explica.

“A pandemia deixou mais evidente para os operadores logísticos o real papel de uma seguradora que disponibiliza seguros com serviços de valor agregado, realizado por equipes estruturadas, altamente qualificadas e com conhecimento do segmento de transporte como negócio”, acredita Adriano Yonamine, diretor de Transporte e Auto Frota da Sompo Seguros. A companhia vinha de um histórico de desempenho e conquista de market share bastante relevante. “Entre 2014 e 2020, a nossa carteira de transporte cresceu cerca de 27,4% ao ano, o que nos fez atingir a liderança do segmento nesse período”, diz.

Com a retomada gradativa da atividade econômica no Brasil, as importações e exportações de produtos aumentam cada vez mais, as empresas estão expandindo suas frotas e, consequentemente, a demanda por seguros de transportes cresce. “A pandemia trouxe a clareza de que a logística é uma peça central no fluxo entre as várias cadeias de valor que movem a sociedade, independentemente de estarmos falando sobre um simples café que chega até a casa do consumidor ou do transporte de materiais essenciais para um grande hospital”, aponta Marcos Siqueira, diretor de Seguros Corporativos da Liberty Seguros. Segundo ele, o forte aumento nas movimentações de cargas e mudanças no tipo de mercadorias transportadas, gerou a necessidade de ajustes e negociações de algumas cláusulas das apólices vigentes, tais como limites, tipos de mercadorias transportadas e plano de gerenciamento de risco.

A Liberty trabalha com um portfólio diversificado de produtos para o segmento, que registrou um crescimento de mais de 21% na companhia em 2020. Entre as opções que a empresa oferece há o transporte nacional e internacional, com opções de apólice avulsa ou por averbação, o transporte fácil e o responsabilidade civil do transportador rodoviário de carga.

Para Guilherme Perondi, diretor-executivo de Estratégia de Distribuição e Clientes e Head Divisão Standard da Swiss Re Corporate Solutions, o segmento de transportes tem a vantagem de atender todos os segmentos da economia, o que torna um ramo resiliente em momentos de crise. “Diferentemente, por exemplo, de ramos que atendem especificamente obras de investimento e projetos de infraestrutura, e que sofrem em períodos de baixos investimentos, o transporte é essencial para segmentos que performaram muito bem na crise, como o agro, tanto como para aqueles que ganharam força na pandemia, como o comércio eletrônico, compensando setores de economia que frearam durante a pandemia”, argumenta.

A Swiss Re Corporate Solutions também registrou crescimento no volume de prêmios emitidos no ramo de transportes e espera acelerar o ritmo como resultado da expansão do time de subscrição e pelos investimentos em tecnologia. “Até o fim deste ano teremos uma ferramenta de cotação, emissão, averbação e sinistros totalmente digital pronta para nossos corretores parceiros, que vai melhorar nossa solução para apólices médias e permitir nosso avanço no segmento”, reforça o diretor.

O segmento logístico ainda sente os reflexos da pandemia e do cenário econômico, mas como é um segmento em que os profissionais têm de lidar com as adversidades no dia a dia, não falta criatividade, estratégia e planejamento para fazer com que a movimentação de cargas siga acontecendo. E o reflexo claro disso é o aumento na movimentação de carga, tanto em volume quanto em valor. Na Sompo, a equipe de consultoria em Gerenciamento de Riscos efetua um trabalho de inteligência para mitigar riscos. “Nesse processo, verificamos um aumento muito expressivo na incidência de acidentes rodoviários, acima de 30% entre janeiro e agosto se comparado com o mesmo período do ano anterior. Conhecemos a dinâmica do mercado, que trabalha muitas vezes com prazos apertados. Mas percebemos que alguns fatores e comportamentos, como a ‘pressa’, por exemplo, na maioria das ocasiões, resultam em situações indesejadas que têm, como consequência, prejuízos. É importante que os segurados estejam atentos e sigam as orientações do corretor de seguros e da equipe de Gerenciamento de Riscos em relação aos procedimentos de embarque, trajeto, capacitação de motoristas, equipamentos utilizados etc.”, alerta Adriano Yonamine.

O crescimento está se mostrando robusto, na visão de Diego Gomes, diretor de Seguro Transporte da Chubb. “O segmento foi muito afetado pela pandemia em 2020, especialmente no primeiro semestre, com alguma recuperação nos dois últimos trimestres do ano. Ainda assim, de acordo com dados da Susep, houve uma retração de 5% no volume total de prêmios deste produto no ano passado. Em 2021, estamos registrando uma retomada consistente, fruto da aceleração econômica produzida pela redução das restrições de circulação e o fim gradativo das medidas de isolamento social”.

Para Ivor Moreno, o mercado, de maneira geral, não sentiu muito os efeitos da pandemia. “No primeiro momento, o impacto foi muito grande, porém rapidamente a sociedade se adaptou à nova rotina e colocou o e-commerce como principal ferramenta de comercialização. Esta nova forma de vendas alavancou boa parte dos negócios, principalmente no auge do isolamento da sociedade, durante os primeiros meses da pandemia”, analisa.

Oportunidades de negócios

Jonson Marques de Sousa, diretor de Empresas e Grandes Riscos da Mapfre, ressalta que o transporte tem reflexo imediato com a economia, e a companhia tem se beneficiado com o aquecimento dos mercados onde atua. “Temos estruturado facilitadores para os corretores, que têm gerado novas oportunidades. Lançamos recentemente um produto chamado Cargo Light que está focado em operações menores, com cargas de até R$ 200 mil, focado no conceito da facilidade de contratação, com cotação na ponta. Isso dá para o corretor agilidade e mobilidade, e possibilita a atuação até mesmo daquele profissional que não tem muita aproximação com a carteira”, comenta.

No entanto, Jonson frisa que é um mercado que exige conhecimento técnico, então o corretor precisa buscar uma companhia que o apoie com equipe especializada e treinamentos técnicos. “É um mercado que demanda atenção, tem gerenciamento de riscos e frequência de sinistros. Por outro lado, é um mercado que fideliza o segurado, os clientes de transportes costumam ficar com o corretor por muito tempo”, diz.

Guilherme Perondi lembra que as apólices de seguro de transportes são “vivas”, ou seja, demandam movimentação constante de averbações, sinistros e regras de gerenciamento de risco e, por isso, é um segmento onde o corretor pode agregar valor nas interações com clientes, seguradora e gerenciadores de risco. “É um ramo onde o papel de consultor de riscos do corretor é uma clara oportunidade de ajudar o cliente no seu dia a dia e na conscientização sobre práticas de gestão de risco e operacional”, diz.

Conteúdo da edição de setembro (235) da Revista Cobertura

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