Protestos pós-eleição: a gestão de riscos e a importância da avaliação do contexto externo

por Juliana Freiria*

Juliana Freiria

O conceito sobre gestão de riscos já não é mais uma novidade para a maioria das organizações e, de forma frequente, o termo se mantém presente e conectado às questões como segurança, proteção e criação de valor, gerenciamento de desastres e continuidade de negócios. À medida em que crises econômicas, políticas e sociais tomam conta das principais manchetes no Brasil e no mundo, vemos a gestão de riscos potencializar sua importância e relevância em boa parte das organizações.

Entretanto, ainda há muito o que evoluir em maturidade de identificação e monitoramento de riscos. Os stakeholders seguem enfrentando barreiras para conseguirem, de fato, ter visibilidade de abordagens proativas e sistemáticas para o gerenciamento de riscos organizacionais e a prática ainda está distante da teoria.

Muito se fala sobre resiliência empresarial, reforçando esta capacidade proativa e, principalmente, tempestiva e ágil que as organizações precisam ter para responderem e se adaptarem às mudanças. Porém, o que ainda é pouco discutido e mantido nas pautas e discussões executivas é como tornar essa postura ativa e resiliente em estratégica e resolutiva, de fato.

Em 2018, o Brasil lidou, durante dez dias, com a paralisação de caminhoneiros por todo o território que reivindicavam o aumento dos preços dos combustíveis, principalmente do óleo diesel. As manifestações causaram a indisponibilidade de alimentos e remédios em todo o País, alguns estados decretaram situação de calamidade pública devido ao desabastecimento. Agora em 2022, após quatro anos, um novo episódio de paralisação de caminhoneiros entra em cena, porém, desta vez, a motivação é por questões políticas desdobradas do resultado eleitoral da Presidência à República Brasileira.

Fala-se muito sobre aprender com os erros para não voltar a cometê-los. Então, será que desta vez os impactos causados pela paralisação foram menos críticos ou menos complexos de administrar? Com um episódio similar recente, os aprendizados trazidos pela pandemia, o fortalecimento da discussão sobre resiliência empresarial e o impulsionamento da visão de continuidade de negócios, imaginávamos que, desta vez, o cenário seria diferente, correto? Infelizmente não. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgou que os bloqueios atuais nas estradas geraram perdas diárias de, aproximadamente, 2 bilhões de reais, muito próximo ao impacto econômico diário causado em 2018, que foi em torno de 1,8 bilhão de reais por dia.

Então, quais ações mitigadoras evoluíram? O que de fato ainda não foi colocado em prática a ponto de evitar ou reduzir o volume de perdas diárias em situações como as de greves e paralisações? Este cenário reforça a carência das organizações em avaliar o todo, extrapolar o contexto interno e ir além dos processos e das rotinas diárias de suas estruturas corporativas. Os modelos de negócios mudaram de 2018 para cá e, ainda segundo a CNC, os impactos em 2022 não se restringem à fonte de receitas, mas também estão relacionados à elevação dos custos, especialmente, do transporte devido ao aumento na dependência de serviços de entregas, como o rodoviário e as operações com estoques reduzidos.

O ponto de partida no processo de gestão de riscos é justamente o estabelecimento da visão interna complementada ao contexto externo. Antes mesmo da identificação dos riscos é necessário olhar para fora, avaliar o cenário político e econômico, entender o histórico, simular situações adversas e avaliar tendências e perspectivas para o futuro. Além disso, é imprescindível fortalecer as discussões com stakeholders para definição de estratégias e indicadores, sem contar o monitoramento de dados para a produção de informações relevantes que fortaleçam o gerenciamento de riscos.

Na maioria das vezes, os riscos são interpretados como um aspecto negativo, porém podem, sim, disponibilizar e permitir uma visão de impacto positivo. Na priorização da avaliação e entendimento do contexto externo das organizações é possível avaliar e reduzir incertezas e, o que era interpretado como ameaça, torna-se uma oportunidade. Saber lidar com a adversidade e estar preparado para encarar situações complexas que fogem do poder de decisão corporativo torna as organizações mais competitivas e, consequentemente, reforça a resiliência empresarial. É por este caminho que a prática se aproxima da teoria.

*Juliana Freiria é gerente de Riscos Corporativos e Continuidade de Negócios da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados, e é certificada internacionalmente pelo The Global Institute for Risk Management Standards (C31000).

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