Saúde não tem preço, mas tem custo

*Por Raquel Marimon

Raquel Marimon

Diversas pesquisas indicam que o plano de saúde é um dos itens mais desejados pelos brasileiros, mas também um dos que consome a maior parte do orçamento familiar.  Dos 47 milhões de brasileiros que possuem plano de saúde, 15 milhões têm planos individuais ou coletivos através de adesão. As empresas que oferecem o plano como benefício a seus colaboradores buscam cumprir uma função social, oferecendo boas condições de suporte e de trabalho. Mas o que nem todos se atentam é que qualquer custo, seja de remuneração direta ou de benefícios, é repassado para o preço do produto final que comercializa. Ou seja, no final das contas, vai para a mensalidade do usuário.

Diversos fatores podem impactar o custo da saúde. Para se ter uma ideia, na década de 90 as empresas gastavam em torno de 5% da folha de pagamento com o benefício saúde. Hoje esse porcentual já passa de 10% a 12%.  Esse valor poderia representar, por exemplo, um aumento de renda dos trabalhadores ou até mesmo a diminuição do preço final de um produto.

Com os sucessivos aumentos, uma das soluções adotadas para a manutenção da oferta do plano de saúde por parte das companhias é a divisão de valores com os colaboradores. Um estudo da consultoria Mercer, mostrou que em 2015, 51% dos planos tinham o modelo de coparticipação (em que o beneficiário paga uma parte da despesa). Cinco anos depois, em 2020, esse número subiu para 74%. Ou seja, 32 milhões de brasileiros ainda pagam uma parte desse plano e, a empresa, está pagando mais de 10%.

Todas essas informações evidenciam que a saúde de cada um de nós não tem preço, mas tem um custo. E ele aumenta a cada ano não por ganância das operadoras, mas porque cada nova obrigação de incluir um exame, um tratamento ou a cada modernização das soluções de saúde, a conta aumenta. E quem está pagando boa parte disso é o brasileiro. Estas adversidades apresentadas no cenário econômico atual mostram, cada vez mais, a necessidade de uma previsibilidade do setor de saúde.

Até mesmo ações corriqueiras do dia a dia mostram os impactos de custos na cadeia de Saúde Suplementar. A medicina, por exemplo, evolui a uma velocidade exponencial. Além de novas doenças, as pesquisas nesse campo conquistam novas descobertas de tratamentos e medicamentos. Mas é importante ressaltar que não é papel da medicina olhar a condição econômica ao indicar um tratamento ao paciente. Ela precisa escolher o que há de melhor para a saúde dele. Quanto custa os tratamentos e qual é a condição econômica de cada pessoa não costuma ser o foco de um médico ao receitar determinado tratamento ou medicamento.  E o paciente, claro, segue as recomendações médicas e o plano assume os custos dos exames, internações etc.

Por isso, é fundamental que o plano tenha previsibilidade de gastos, a fim de honrar com os custos que virão e não deixar de atender o usuário no tempo que ele precisa. Para isso, existe a ciência chamada atuarial. Saber exatamente quais sãos as coberturas que um plano de saúde vai oferecer é um insumo básico e necessário para estabelecer de forma prévia o preço de um plano. Nesse sentido, o setor atuarial colabora para que essa previsão seja feita.

Em outras indústrias, enquanto o contador está capacitado para lidar com custos existentes e certezas quanto aos insumos necessários, o atuário está preparado para estimar o incerto. O profissional é capaz de prever quantas pessoas dentro de um grupo precisarão de atenção à saúde e o quanto os tratamentos irão custar para poder definir o preço final. A partir de metodologias atuariais é possível prever o valor a ser gasto com mensalidades.

É esse profissional que quando uma decisão judicial determina que os planos passem a fornecer um exame específico calcula qual será o impacto disso para o orçamento das operadoras de saúde, para que elas possam se organizar financeiramente para suportar os novos custos. E depois repassar os valores devidos aos usuários ou empresas clientes.

Podemos traduzir a função a partir da relevância do princípio do mutualismo, que define que as incertezas individuais se tornam certezas coletivas. Esse é o papel do atuário, é tornar a incerteza individual sobre eventuais necessidades de tratamentos de saúde uma certeza matemática a partir da definição previa do valor de mensalidade do plano.

Essa condição é a base para a sustentabilidade do setor.

*Raquel Marimon é Head de Negócios de Saúde Suplementar da Funcional

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