Tempo médio de estudo teve queda de 40% entre crianças e jovens na pandemia, afirma economista da FGV

No X Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, da Fenaprevi, Marcelo Neri disse que, além dos impactos sanitários, País terá de lidar com “enorme retrocesso educacional” no futuro; em contrapartida, envelhecimento da população deve valorizar jovens no mercado de trabalho

Durante um dos painéis do X Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, realizado pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida – Fenaprevi, na última quinta-feira (01.09) na capital paulista, o diretor da FGV Social e professor da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri, trouxe novos dados sobre as consequências da pandemia na educação no Brasil. Segundo o especialista, houve uma redução de 40% no tempo médio de estudo dos jovens e crianças brasileiros, piorando uma situação que vinha em queda por quatro décadas seguidas.

O grupo que mais retrocedeu foi o das crianças mais pobres e novas (5 a 9 anos), fase crucial para o desenvolvimento do ponto de vista educacional e intelectual de uma pessoa. De acordo com Neri, o impacto do retrocesso educacional deve ser de longo prazo.

Segundo o estudioso, normalmente a baixa adesão tem a ver também com pouca demanda ou falta de interesse. Mas na pandemia o impacto resultou da não oferta do básico, em termos de condições para estudar, já que a principal causa para a evasão foi a falta de material ou estrutura para o aprendizado remoto. Naturalmente, este impacto é maior em classes sociais mais baixas.

Em compensação, segundo Neri, essa geração tende a ser altamente valorizada no mercado de trabalho, já que o número de jovens cairá acentuadamente no Brasil, muito acima da média mundial. “É uma situação positiva, ao mesmo tempo que paradoxal”, analisa.

Os impactos e as lições da pandemia

“Os impactos e as lições da pandemia: economia, saúde e comportamento” foi tema do Painel 1, que reuniu, além do professor Marcelo Neri, a doutora em Estatística, professora do IM/UFRJ e pesquisadora do Labma/UFRJ, Thais Fonseca, e o médico consultor da Munich RE, Mauro Veras. Outra convidada foi a pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Margareth Dalcolmo. Os especialistas em saúde, seguros e previdência jogaram luz sobre os bastidores do enfrentamento da maior crise sanitária do século e revelaram como as seguradoras se utilizaram de dados e do apoio da comunidade científica para se estruturarem para essa batalha.

Na segunda metade do painel, participaram do debate o vice-presidente da Fenaprevi e diretor presidente da Comprev Vida e Previdência, Francisco Souza; o diretor da Fenaprevi e vice-presidente de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica Marcelo Pimentel Mello; e o diretor da Fenaprevi e diretor executivo de Vida e Previdência da Porto, Carlos Gondim. A mediação da conversa ficou a cargo do presidente da Bradesco Seguros, Ivan Gontijo.

Thais abriu sua fala destacando um estudo, fomentado pela Fenaprevi e conduzido por sua equipe, com o objetivo de investigar os impactos da vacinação sobre a mortalidade por Covid-19 por meio do cálculo do risco relativo. O estudo cruzou dados locais com o de outros países, considerando variáveis como as políticas de enfrentamento adotadas por cada país e as faixas etárias das carteiras de seguros de vida. O estudo comprovou a eficácia da vacinação para a redução do agravamento da doença e das internações hospitalares.

Na sequência, um segundo estudo foi apresentado, desta vez relacionando as internações em UTI com a cobertura vacinal no Brasil. O objetivo foi investigar as internações nessas unidades de acordo com a vacinação dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Para o mercado segurador, essa análise é de suma importância, já que permite auxiliar na mensuração de casos graves que podem gerar pagamento de benefícios (Diária de Internação Hospitalar, por exemplo). O estudo concluiu que, ao prevenir o risco de agravamento da doença e reduzir as internações por Covid-19, a vacinação poderia levar à redução de sinistros.

A professora encerrou sua exposição com um último estudo que traz modelos de previsão de novas ondas da covid-19 no Brasil a partir de dados de países que vivenciaram as ondas antecipadamente. O modelo propõe uma abordagem de dois passos: primeiro, prevê os casos no Brasil de acordo com os casos no Canadá defasados; depois, utiliza os casos previstos para projetar o número de mortes no Brasil. Apesar da mudança de padrão da doença afetar temporariamente o modelo, ele foi capaz de realizar uma previsão satisfatória. Thais explica que “ao permitir criar cenários que possam, de alguma forma, ser exemplos do que poderia acontecer no futuro, o modelo proporciona ao mercado uma gama de possibilidades, sobretudo no que diz respeito à precificação de produtos e serviços”.

Já Mauro Veras apresentou considerações sobre a chamada “Covid Longa” ou “Condição Pós-Covid”, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a forma da doença cujos sintomas surgem em até três meses após a contaminação, duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo. Para tanto, Veras trouxe dados estatísticos especialmente de estudos que foram realizados na Europa, elucidando os impactos da condição clínica para os seguros, especialmente na subscrição de risco e, também, na regulação de sinistros.

Margareth Dalcolmo traçou uma linha do tempo sobre sua atuação na pandemia. Com décadas de experiência na saúde pública, a médica não tem dúvidas em afirmar que “nunca viu algo que evoluiu tão rapidamente em 41 anos de carreira”. Dalcolmo chamou atenção também para o papel de instituições de pesquisa, como Fiocruz e Instituto Butantan, no enfrentamento à pandemia.

A médica ainda lembrou do papel do SUS na crise, que avaliou como fundamental apesar das inúmeras dificuldades, e exaltou também a atuação da iniciativa privada, que aportou altos valores no SUS e em hospitais da Rede Privada. Disse que espera por uma mudança de cultura na iniciativa privada como apoiadora do SUS, como consequência do enfrentamento da pandemia.

Finalmente, Margareth Dalcolmo mencionou as vacinas de segunda geração, que devem chegar em breve. Sobre vacinação contínua, informou que ainda não há informações sólidas sobre isso. Remetendo ao contexto em que o país será um país de idosos em 30 anos, defendeu uma linha de prevenção e cuidados para com os mais velhos.

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