Após o desafiador 2022, o que o setor de seguros espera de 2023?

Em 2022, a maior expansão ocorreu no segmento de Danos e Responsabilidades. Entre os produtos que mais pagaram indenizações estão VGBL, Automóvel, Capitalização, Rural, PGBL e Vida. Agora, quais ramos irão aquecer o próximo ano?

Carol Rodrigues

Embora a pandemia causada pela covid-19 ainda não tenha terminado, 2022 apresentou sinais de recuperação. No Brasil, dois momentos se destacaram, segundo Natalie Victal, economista- chefe da SulAmérica Investimentos. 

“No primeiro momento, o Brasil foi o espelho do que está acontecendo no restante do mundo. Vivemos a surpresa inflacionária do Brasil, vimos um mercado de trabalho mais apertado e uma deterioração do balanço inflacionário de modo geral. Isso gerou revisões constantes da Selic para cima. O segundo momento foi a constatação de que a inflação ia fazer pico. A inflação no Brasil foi uma das primeiras do mundo a fazer pico”, contextualiza. 

O mercado de seguros é sensível aos impactos econômicos, mas vem mostrando sinais de recuperação, além de manter o ritmo de inovação em produtos para os consumidores e em soluções para os corretores de seguros.

Segundo dados da CNseg, o setor segurador vai encerrar o ano de 2022 com crescimento na arrecadação de 17,1% (sem Saúde Suplementar) e em 12,9% considerando o segmento. O maior destaque para a expansão é o segmento de Danos e Responsabilidades que deve subir 25,2%, enquanto a projeção para Cobertura de Pessoas (seguros de Vida e Planos de Previdência) é de 13,1%. Capitalização tem previsão de fechar o ano com alta de 18,2% e para Saúde Suplementar a projeção é de 7,7% de expansão.

Entre janeiro e outubro, o pagamento de indenizações, benefícios, resgates e sorteios somou R$ 182,9 bilhões, alta de 18% na comparação com o mesmo período de 2021, sem considerar Saúde. Até outubro, os produtos que mais pagaram foram VGBL (48,9%), Automóvel (13,9%), Capitalização (9,9%), Rural (5,5%), PGBL (5,1%) e Vida (3,7%).

“A indústria seguradora tem uma característica social positiva, repondo rapidamente a renda de uma pessoa, famílias ou empresas, estabilizando a qualidade de vida em momentos de adversidade. Os números mostram que o setor desempenhou bem o seu papel, ajudando diretamente os segurados que consideraram esses produtos como parte do planejamento financeiro e, indiretamente, a sociedade e a economia”, avalia o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira.

Um momento de proteção 

“Mesmo com a economia sofrendo ainda as consequências da crise sanitária, notamos que um dos efeitos da pandemia foi o aumento do interesse em relação à proteção e ao planejamento financeiro. De forma geral, esse novo olhar para os benefícios do seguro vem ampliando as oportunidades para o nosso setor”, observa José Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine Seguradora que, considerando o período entre dezembro de 2021 e novembro de 2022, por exemplo,  alcançou a marca de R$ 10,3 bilhões em prêmios emitidos. “Esta era uma meta que tínhamos prevista para 2024 e atingimos com dois anos de antecedência”. 

Segundo Ferrara, entre os destaques da Diretoria de Produtos Massificados, apesar de todas as variáveis que impactaram o ramo Auto, somadas à inflação e à queda do poder aquisitivo da população brasileira, houve um crescimento da venda de carros usados, o que demonstra que a indústria tem se adaptado a essas variáveis e mantido bons resultados.

“Considerando o ramo Automóvel, o mercado apresentou um incremento de 34,7% até outubro desse ano. No caso da Tokio Marine, continuamos registrando resultados bastante expressivos na carteira de Automóvel – no mesmo período, de janeiro a outubro, crescemos 66,8% nesse segmento”.

Na carteira de Pessoas, ele destaca a marca de R$ 500 bilhões em prêmios emitidos, enquanto a Diretoria de Produtos Pessoa Jurídica continuou registrando recordes de produção. Entre os produtos que tiveram destaque este ano estão Riscos de Engenharia, E&O, Agro Equipamentos e Fazendas, Riscos Cibernéticos e Garantia.

Parcerias estratégicas

“Não só crescemos em volume de prêmios como expandimos nossa atuação territorial, atualmente, trabalhamos com mais de 70 assessorias parceiras na distribuição de nossos produtos, ampliando de maneira estratégica a nossa atuação de 10 para 20 estados brasileiros”, destaca Márcio Benevides, diretor-executivo de Distribuição da Seguradora Zurich.

Segundo ele, no que diz respeito ao canal corretor, o ano de 2022 foi marcado por um crescimento de 53,6% em relação ao mesmo período de 2021, considerando os meses de janeiro a outubro. 

Na companhia, os produtos com maior crescimento de prêmio emitido no canal corretor, no período de janeiro a outubro de 2022, em comparação com o mesmo período do ano anterior, são seguros Patrimoniais (+216,5%), Engenharia (+158,8%), Frotas (+107,1%) e Automóvel Individual (+69,4%). 

“A Zurich é uma seguradora multilinha, multiproduto e multicanal, e isso se reflete em nossos destaques, que incluem tanto seguros para Pessoas físicas quanto para empresas. Sobretudo para os seguros corporativos, a Zurich tem um grande diferencial, que é o seu time de Engenharia de Riscos, que presta todo o suporte necessário aos corretores e clientes para que possam contar com os melhores produtos de proteção”, diz.

Já para a Allcare, 2022 foi mais um ano excepcional. “Em termos concretos, tivemos um crescimento de 30%, atingindo a marca de 296 mil beneficiários em nossa carteira. Também firmamos acordo com 13 novas operadoras, chegando atualmente a 57 parceiras. Nesse campo, um dos destaques deste ano foi a parceria estratégica firmada com a Nunes & Grossi. Com a aquisição da sua carteira de clientes, fortalecemos nossa atuação na Baixada Santista e ampliamos o leque de opções para nossa rede de corretores”, conta Farias Sousa, presidente da Allcare.

Para o Grupo Allcare, o ano de 2022 marcou também o lançamento da Solutions, empresa com atuação nacional na oferta de serviços e sistemas de gestão para companhias contratantes e operadoras do setor de saúde. “Este ano, observamos um grande avanço nos planos de saúde PME. Na Allcare, essa modalidade já responde por 20% da nossa carteira e a tendência é de crescimento, que começou a ser observada em 2021 e se consolidou em 2022. Atualmente existe uma oferta muito grande e diversificada, com várias opções para o cliente, já que as operadoras perceberam o potencial desse nicho, com a alta procura por parte de empresas de todos os portes e em todas as regiões do País”.

Balanços positivos

A Allianz Seguros fechou os primeiros nove meses de 2022 com um crescimento de 18% em prêmios emitidos ante o mesmo intervalo do ano passado, sem considerar Saúde Suplementar. “Entre as carteiras que se destacaram no período estão Vida, com alta de 30,7% em prêmios emitidos; Automóvel (+19,2%); Condomínio (+14%), ramo em que a Allianz é líder de mercado; e Transportes (+9%). E a expectativa da companhia é encerrar o ano de 2022 com incremento de dois dígitos em faturamento, assim como tem registrado nos meses anteriores”. 

O seguro de Automóvel permaneceu como o carro-chefe da Allianz, embora a companhia tenha trabalhado pautada na diversificação de seus produtos, com lançamentos voltados para as carteiras de Residência, Condomínio, Vida e Transportes. “Em 2022, a empresa realizou diversos investimentos, sobretudo no produto Saúde”.

Na SulAmérica, segundo o CEO Ricardo Bottas, os números reportados nos primeiros três trimestres de 2022 apresentam aumento nas receitas totais, apoiadas pelo importante crescimento no número de beneficiários de Saúde e Odonto e de segurados em Vida e Acidentes Pessoais, além do recorde de ativos administrados na SulAmérica Investimentos e da retomada do crescimento em Previdência. 

“Apesar dos desafios que todo o setor enfrentou, conseguimos priorizar importantes ações que contribuíram para trazer uma operação ainda mais eficiente. Também tivemos avanços importantes em relação à recuperação da sinistralidade do segmento de saúde, resultado de iniciativas de gestão de sinistro, coordenação de saúde e uma forte parceria com os prestadores da rede na busca de maior eficiência e controle de custos”, destaca Bottas.

No último trimestre, todas as operações da companhia apresentaram um bom desempenho em termos de crescimento, expandindo receitas e número de segurados, com nossos resultados impulsionados principalmente pelo segmento de Saúde e Odonto. “O balanço divulgado referente ao terceiro trimestre de 2022 demonstra o relevante crescimento na base de beneficiários da SulAmérica neste segmento, que atingiu a marca de 4,9 milhões, um aumento de mais de 9% em relação ao mesmo período do ano passado”.

A consultoria Brazil Health cresceu 40% em 2022. “Atuamos mais no Saúde e no Odonto. Por conta de toda a necessidade de saúde que o País vive, entendemos que foi o maior pilar de crescimento”, comenta Leandro Sandor, CFO da Brazil Health. 

Em 2022, a Brazil Health criou a Universidade de Vendas, que oferece atendimento, suporte e orientação para o corretor que atua em outros ramos para que ele vivencie a experiência do saúde. “Fizemos um curso com as principais lideranças de seguradoras e operadoras, no qual eles ministraram vários temas voltados à saúde como sinistralidade, fraude e gestão”.

Que venha 2023

Tudo indica que as palavras de ordem repetidas em 2022 serão a tônica também de 2023.

Segundo a economista-chefe da SulAmérica, o panorama internacional foi bem relevante em 2022 e continuará sendo em 2023. A SulAmérica Investimentos tem tratado o cenário global com um pêndulo entre inflação e recessão. “Estamos em meio a um ciclo de aperto monetário. O mundo inteiro se viu tomando um choque homogêneo, que foi a pandemia.  Começamos a ver uma aceleração inflacionária. Houve divergência na velocidade de resposta à aceleração inflacionária”, explica. 

Para ela, o cenário externo é desafiador. “O Brasil não será carregado pelo mundo como em outras oportunidades. É um cenário no qual teremos alguma turbulência para navegar”. 

No entanto, ela não vê o Real com grandes variações, pois o Brasil está melhor posicionado do que outras economias. “Teremos uma taxa de juros bem elevada e uma certa ressaca do que aconteceu ao longo de 2022. Na projeção setorial, 2023 será puxado pelo setor de Agronegócio, Serviço vai andar de lado e a Indústria crescerá pouco”, diz a economista.

Para Marcello Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, o fator risco está menor, o que estimula uma visão moderadamente otimista. “A nossa visão de oportunidade está em dois atos: no primeiro semestre, teremos juros e taxa Selic estáveis. O mercado já projeta queda da taxa de juros, nós não. No segundo ato, vemos juros curto e longo para baixo, bolsa para cima e o Real se mantendo até pela redução do diferencial de juros com a queda da taxa Selic”, comenta.

Na visão do presidente da CNseg, o PIB do próximo ano alcançará 2,2% de expansão. Diante disso, a CNseg estima que a arrecadação do mercado segurador vai crescer 10% no próximo ano, já incluindo Saúde. “A aprovação da PEC da Transição e a implementação das medidas fiscais previstas permitirão uma ampliação da renda disponível das famílias e o aumento do investimento público, provocando um aumento da atividade econômica em 2023. Estamos otimistas para o próximo ano”, afirma.

Um dos temas prioritários para a Tokio Marine no próximo ano é a agenda ESG. “Temos fortalecido cada vez mais nossa agenda ESG, por meio da iniciativa Tokio ESG, com o propósito de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, transparente e que use os recursos naturais de forma responsável”, comenta Ferrara.

O presidente da Tokio também destaca a atenção aos desdobramentos da Resolução CNSP 407/2021. “Em nossa avaliação, o documento proporciona uma série de oportunidades para o segmento de Grandes Riscos, como liberdade para estruturação de produtos sem prévio envio à Susep; apólice única cobrindo todas as necessidades de seguro do cliente; contratos com condições livremente pactuadas conforme acordo entre as partes e consolidação de condições ‘all risks’ para todos os ramos” .

Segundo ele, outros produtos que devem continuar aquecidos em 2023 são o Seguro de Vida e o Seguro de Transportes, baseado na produtividade do setor do agronegócio e da consolidação do e-commerce nos hábitos de compra do brasileiro.

“Ainda teremos desafios na trajetória de recuperação de resultados em 2023, mas acreditamos que esse processo já começou. Seguimos investindo na ampliação da nossa proposta de valor de produtos e serviços, além da melhoria contínua de toda a nossa rede credenciada com processos cada vez mais inteligentes para a escolha dos parceiros. Utilizamos essa inteligência para garantir qualidade e maior excelência, permitindo assim que continuemos investindo em maiores níveis de experiência dos clientes. Nossa busca está em trabalharmos uma melhor administração do sinistro, tornando o processo mais sustentável para todo o segmento de Saúde”, prevê Ricardo Bottas.

O foco da companhia segue nos clientes e corretores, e na apresentação e oferta de novas maneiras de solucionar as demandas desses consumidores. “Durante o próximo ano, planejamos intensificar nosso posicionamento em promover Saúde Integral para mais pessoas, provando que é possível alcançarmos o equilíbrio entre as saúdes física, emocional e financeira. Nós também pretendemos desfrutar de toda a tecnologia disponível para aumentar o acesso a seguros por parte da população. O time SulAmérica está à frente de muitas discussões para tornarmos o modelo de negócio mais sustentável para todos, conseguindo assim, oferecer segurança e proteção para um maior número de brasileiros”, diz o presidente da SulAmérica.

Para o CFO da Brazil Health, 2023 também será um ano desafiador para o setor de Benefícios. “Entendemos que a área de benefícios está em constante crescimento. Isso é muito positivo para o nosso ramo. Projetamos um crescimento entre 20% e 25%. Temos que inovar sempre e trazer muita novidade para o corretor e assim conseguirmos consolidar cada vez mais os resultados”. 

Segundo Sandor, um dos focos da Brazil Health em 2022 é fortalecer a Universidade de Vendas BrH. “Vamos criar um conteúdo muito mais interativo e com mentorias para que os profissionais de pequenas corretoras consigam acelerar os seus negócios voltados aos nossos segmentos. Iremos buscar o que fazer para melhorar e fortalecer as estratégias e as parcerias com as seguradoras e operadoras, trazendo produtos e diferenciais para os corretores da Brazil Health levarem aos seus clientes. O tempo todo o nosso desafio é buscar diferenciais”, destaca Sandor, sobre um dos pilares que será trabalhado em 2023.

Além do movimento focado no corretor, a Brazil Health tem buscado crescimento em algumas regiões. “Recentemente inauguramos uma operação em São José dos Campos com o Grupo Futuro, que passou a chamar Futuro BrH”.

Karine Barros antecipa que a Allianz já executa o planejamento para 2023. Com o propósito de prover aos clientes um futuro com segurança, a companhia adotou a estratégia global “2022+”, para fazer frente às expectativas atuais dos segurados e da sociedade em geral. “Esses pilares focam na criação de valor, entrega e execução de soluções simples e inovadoras para alcançar resultados de referência e a padronização dos serviços em escala global. Isso, claro, considerando a relação de confiança com os clientes e as demandas específicas do público brasileiro”.  

Segundo ela, a estratégia “2022+” ajudará a companhia a continuar cumprindo o propósito de manter corretores e clientes no centro de suas decisões. “Para colocar em prática o que foi estabelecido, a Allianz Brasil estruturou pilares-chave que consideram, entre outros fatores, a melhoria na experiência dos corretores parceiros, a atuação no crescimento dos produtos foco e a simplificação de processos”. 

No próximo ano, a Allianz apresentará uma série de novidades, inclusive focadas na carteira de Automóvel. “Entre elas, a implementação de um novo sistema de reembolso, modernização da vistoria prévia, novo aviso e acompanhamento de sinistro (que será feito via celular), revisão de regra de acessórios, repaginação dos pacotes de seguro Auto, novas possibilidades na contratação de coberturas, carro reserva para veículos premium. Já para as Linhas Corporativas, o propósito é simplificar produtos e serviços e agilizar processos para que os corretores trabalhem com mais autonomia e de maneira mais assertiva com os clientes”.

Na visão de Farias, a tendência de ascensão dos planos PME deve continuar em 2023. Acreditamos muito no potencial desse segmento para crescermos, além, é claro, dos planos coletivos por adesão. Para isso, seguiremos estabelecendo parcerias com novas operadoras, ampliando nossa capilaridade e diversificando nossa oferta. Para o Grupo Allcare, este será o ano de consolidação da Solutions, lançada há pouco mais de seis meses com o objetivo ajudar as operadoras a otimizarem seus negócios”.

Conteúdo da edição de dezembro (249) da Revista Cobertura

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