Cinco riscos no radar das seguradoras no cenário global

Especialistas contextualizam os riscos climáticos, cibernéticos, políticos, deterioração da saúde mental e recuperação global e também recomendam proteções
Carol Rodrigues

Após a pandemia, muita coisa mudou. Alguns riscos se agravaram, além do surgimento de novos. Se de um lado as sociedades sofrem e se sentem ameaçadas por eles, por outro, temos um mercado segurador bem atento e apto a oferecer uma solução.

Um deles é o risco político que se refere às ações ou omissões de governos que negam ou restringem direitos a investidores e proprietários privados, no que diz respeito à livre utilização de seus ativos, o que pode levar, inclusive, à redução do valor das empresas, gerando perdas expressivas. Vale destacar que ele se refere também à guerra, agitação e violência política. “Além de privar uma empresa dos seus ativos, o risco político pode restringir a sua capacidade de cumprir obrigações contratuais e/ou financeiras (como repagamento de empréstimos)”, diz Silvia Toenges de Vergara, Regional Specialty Leader LatAm | Surety, Credit & Political Risk da Aon Brasil.

Ela analisa que, em um cenário político global cada vez mais volátil, os riscos que as empresas enfrentam nos mercados emergentes podem levar ao aumento de custos, à perda de ativos, às sanções, os encerramentos forçados e a perdas de lucros. “Os cenários possíveis são muito amplos, mas todos esses riscos têm impacto substancial no balanço da empresa. Qualquer organização com interesses transfronteiriços em mercados emergentes está exposta a riscos políticos. Grande parte desses eventos são seguráveis.

A Aon possui inúmeros clientes globalmente, que incluem bancos, investidores, exportadores, comerciantes, empreiteiros, empresas de projetos, negociantes de commodities e indústrias”, expõe Silvia, ao lembrar que o Brasil apresenta risco político médio conforme o Mapa de Riscos Políticos 2023 da Aon.

Percepção de risco no Brasil

Em termos de Risco Brasil, a especialista da Aon explica que, em comparação com o restante da América Latina, o Brasil apresenta uma situação política bem menos instável.

“Claro que houve um agravamento, especialmente em razão da turbulência na troca de governos com ápice na invasão e depredação do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto em janeiro deste ano, que lembrou o ocorrido no Capitólio em 2021, o que gerou incerteza para investidores. Isso tem consequências, pois a percepção de risco se eleva, assim como as taxas de juros, afetando a bolsa e outros ativos”.

Após o período eleitoral e de transição para o atual governo, a instabilidade política diminui, mas vem sendo constantemente monitorada pelas seguradoras que operam com o seguro de risco político.

“Para os investidores estrangeiros, o seguro de risco político é uma solução perfeita, uma vez que nas economias em desenvolvimento, os ativos, os contratos e empréstimos, e as cadeias de abastecimento podem ser afetados negativamente por choques macroeconômicos externos ou por incertezas geopolíticas. O mesmo se aplica a investidores brasileiros, buscando alternativas de investimento fora do país”, explica Silvia.

Desenvolvimento econômico e bem-estar

Para David Colmenares, Managing Director Allianz Commercial LatAm, a recuperação global tem de ser vista por meio de uma análise multifatorial e deve ser abordada em várias frentes. “A primeira seria a econômica em que, após a pandemia e o conflito entre a Ucrânia e a Rússia, indica que a recuperação está no bom caminho com a inflação a abrandar na maioria dos países e as economias a reativarem-se com base no consumo de bens e serviços”.

David Colmenares, Managing Director Allianz Commercial LatAm

No entanto, ele destaca que não se pode perder de vista o fenômeno do abrandamento em vários setores do mundo, que conduz a uma deterioração do poder de compra e do endividamento tanto dos cidadãos comuns como das entidades. “Além disso, a frente social e de bem-estar dos cidadãos continua a ser um fator a ter em conta. Só agora estamos vendo as verdadeiras consequências da pandemia na saúde mental da população adulta e infantil, para além dos atrasos na vacinação e no acesso aos serviços básicos”, comenta Colmenares.

Conforme ele, essa realidade convida todos os atores da sociedade, desde os governos às coletividades e empresas, a continuar a conceber e a aplicar planos globais que combinem o desenvolvimento econômico e o bem-estar da população em uma combinação virtuosa.
“Embora existam razões para ser otimista, a desaceleração continua a dar sinais de ser uma dificuldade que, se não for controlada, pode ter consequências complexas, especialmente numa região tão particular como a América Latina. Os governos têm de ter políticas e ações claras que demonstrem a sua firme intenção de somar ações de atendimento à população em frentes tão básicas como o acesso à alimentação e à saúde”.

O portfólio da Allianz Commercial inclui seguros em várias linhas de negócio para os setores de Engenharia & Construção, Marítimo & Transportes, Responsabilidade Civil, Linhas Financeiras, Property & Casualty e Entretenimento.

“A Allianz Commercial oferece confiança e apoio através de um portfólio abrangente que combina o melhor das capacidades globais do grupo Allianz, juntamente com o conhecimento contextual e as necessidades personalizadas que advêm de uma execução local sem falhas. Face a acontecimentos imprevistos que não podem esperar, estabelecemo-nos como um verdadeiro parceiro dos nossos clientes, proporcionando-lhes conhecimentos globais em engenharia de riscos, a experiência para oferecer soluções à medida e a confiança de sermos um dos maiores grupos seguradores e financeiros do mundo”.

Incidência de problemas mentais

Com a pandemia causada pela covid-19, a saúde mental foi muito impactada e o risco da deterioração da saúde mental se tornou uma preocupação maior.

Patrícia Soeiro, superintendente de Vida e Parcerias da AXA no Brasil

“A AXA tem acompanhado o impacto da pandemia de covid-19 na saúde mental das pessoas. A pandemia trouxe consigo uma série de desafios, incluindo o isolamento social, a preocupação com a saúde, a incerteza econômica e a mudança nas rotinas diárias, que podem contribuir para o aumento do estresse, ansiedade, depressão e outros problemas”, observa Patrícia Soeiro, superintendente de Vida e Parcerias da AXA no Brasil.

Segundo ela, a crescente incidência de problemas mentais pode afetar a capacidade das pessoas em manterem seus empregos e a qualidade de vida, potencialmente aumentando os casos de invalidez e até a morte prematura.

“Para apoiar nossos segurados, oferecemos em nosso seguro de Vida em Grupo o acesso à terapia on-line, programas de bem-estar e linhas de apoio telefônico disponíveis a qualquer hora do dia para que possam obter suporte imediato em momentos de crise”.

Patrícia ainda destaca que o seguro tem passado por transformações para oferecer serviços que agreguem valor ao cliente. “No caso do nosso seguro de Vida, trazemos benefícios à saúde que são materializados por meio de assistências que contribuem para trazer tranquilidade e apoio imediatos. Essas transformações visam promover uma abordagem mais abrangente para cuidados de saúde, colocando um maior foco na prevenção, bem-estar e gerenciamento contínuo da saúde dos segurados. Em termos de produto, acreditamos que os diferenciais e poder de atração de uma marca estão justamente nesse ponto. Na AXA, o foco no cliente e em suas necessidades é um fator muito importante para direcionar a criação dos produtos”.

Crescimento dos ataques cibernéticos

A proteção contra riscos cibernéticos é um dos temas mais discutidos atualmente pelo mercado de seguros em todo o mundo. Segundo o Instituto Ponemon e a Trend Micro, em 2022, a cada três empresas do mundo, uma foi atacada por hackers por mais de sete vezes. De acordo com o estudo, essas brechas de segurança custaram caro às empresas. Os especialistas consultaram mais de 4 mil empresas de diversos países e foi detectado que o número de invasões aumentou 84% de 2021 para 2022.

Carol Ayub, superintendente de Linhas Financeiras da Tokio Marine Seguradora

“Neste cenário, o Brasil é o principal alvo de ciberataques na América Latina, de acordo com a Netscout, empresa líder global em soluções de cibersegurança. Isso já era uma realidade e podemos dizer que a pandemia trouxe a necessidade da digitalização forçada e às pressas para diversas organizações. Com isso, é possível que não tenham sido considerados todos os aspectos de segurança neste processo, especialmente quanto à proteção contra riscos cibernéticos. Nessa linha, também houve um aumento expressivo na utilização de serviços e realização de compras on-line, o que também demanda proteção dos sistemas contra ataques cibernéticos”, chama a atenção Carol Ayub, superintendente de Linhas Financeiras da Tokio Marine Seguradora.

Carol acrescenta que além dos crescentes ataques cibernéticos registrados contra as empresas no Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) incentivou as empresas a se protegerem contra as ameaças de hackers. “Apesar de não obrigar a empresa a contratar esse tipo de seguro, a LGPD causou uma maior conscientização dos empresários sobre gerenciamento de riscos cibernéticos juntamente com as adequações necessárias para atender a legislação”.

Ela destaca que a indústria de seguros tem acompanhado o crescimento dos ataques cibernéticos e a tendência é a ampliação do portfólio das seguradoras para proteção contra este risco. “Hoje, as principais garantias desses seguros incluem suporte técnico em tempo integral por empresa especializada em gerenciamento de riscos, cobertura dos gastos com a recuperação de dados, apoio jurídico e despesas com indenizações devidas a terceiros pelo vazamento de dados. Também estão sendo feitos estudos, no mundo, em busca da melhor solução em seguro de Riscos Cibernéticos para Pessoas Físicas”.

Um dos diferenciais do Seguro Tokio Marine Riscos Cibernéticos é a flexibilidade dos limites de cobertura, pois é o cliente que escolhe o que deseja contratar, a partir das suas necessidades de proteção. “Esta escolha depende de uma série de fatores, como porte da empresa, grau de informatização de suas operações, medidas de segurança utilizadas e o tipo de informações de terceiros armazenadas em seus sistemas. Além disso, é possível fazer a contratação de quatro coberturas adicionais: Custos de Remediação; Multas PCI e Custos de Avaliação; Extorsão Cibernética e Lucros Cessantes.

Um mundo em aquecimento

O risco climático é um dos maiores riscos que a humanidade enfrentará a longo prazo. Essa é a conclusão do Global Risks Report 2023, estudo produzido anualmente pelo World Economic Forum, em parceria com a Zurich Insurance Group, Marsh McLennan, Universidade de Oxford, Universidade de Singapura e Universidade da Pensilvânia, divulgado no início de 2023.

Andressa Meireles, superintendente de Engenharia de Riscos da Seguradora Zurich

“É importante destacar que, com as mudanças climáticas, têm aumentado a frequência e intensidade dos desastres naturais, o que gera a necessidade de um esforço conjunto dos governos, empresas e sociedade civil em prol do contínuo monitoramento, prevenção e mitigação dos riscos gerados por esses eventos”, descreve Andressa Meireles, superintendente de Engenharia de Riscos da Seguradora Zurich.

“Acreditamos que entender os possíveis impactos da mudança climática é essencial em qualquer companhia de seguros. Assim como ter clareza das ameaças climáticas do futuro é um importante recurso para o processo de tomada de decisão e planejamento estratégico das empresas. Por isso, é papel das seguradoras apoiar os seus clientes nessa transição”, acrescenta.

Segundo Andressa, com o conhecimento adquirido ao longo de anos no gerenciamento da prevenção e mitigação dos riscos e, também, com o histórico e lições aprendidas dos sinistros provocados pelos desastres da natureza, a Zurich conta hoje com serviços climáticos específicos para seus clientes corporativos.

“No Brasil, atuamos principalmente em avaliações de alagamento e vendaval. Além disso, temos recursos que simulam os impactos das mudanças climáticas, considerando as expectativas do aumento ou controle do aquecimento global para os próximos 20 ou 30 anos, além dos impactos para alagamento, seca, vendaval, temperaturas extremas, entre outros, para cada local”, descreve.

O serviço pode integrar a proposta de valor das apólices, ou ser contratado à parte, como solução independente, através da Zurich Resilience Solutions. “Alguns clientes corporativos chegam a ter mais de mil pontos mapeados no Brasil. Atualmente, cerca de 17% dos locais analisados pela Engenharia de Riscos da Zurich no país está em área de alta exposição para alagamento. Há uma tendência no aumento de intensidade e frequência desses eventos climáticos extremos. Baseado em modelos matemáticos, conseguimos estimar também os impactos decorrentes da mudança climática, ajudando as empresas a se prepararem para o presente e para o futuro. Com base nesses estudos e nossas recomendações, as empresas conseguem tomar a melhor decisão para mitigação ou eliminação do risco, que podem inclusive considerar a mudança de endereço”.

Ter mais entendimento dos impactos climáticos nos riscos protegidos com as tecnologias emergentes tem ajudado a melhorar as ferramentas de prevenção. “Contudo, sabemos que não há como barrar totalmente a ocorrência deste tipo de sinistro. Por conta disso, dentro de nossas ações de responsabilidade social corporativa, a Zurich aprovou um fundo de catástrofes de R$ 2,4 milhões para auxiliar comunidades em situações de calamidade pública no Brasil, provenientes de ocorrências como enchentes, alagamentos e outras situações adversas, até setembro de 2023.

Perda de diversidade

A Marsh McLennan corretora também acompanha o tema de perto e lançou em janeiro deste ano o Global Risk Report que traz análises de mais de 1,2 mil lideranças empresariais, acadêmicas e políticas sobre os riscos das mudanças climáticas. “Os riscos climáticos são uma realidade cada vez mais presente e uma preocupação local e global. O relatório destaca que “’se não houver uma cooperação global de forma mais eficaz quanto à mitigação climática e à adaptação climática, durante os próximos dez anos, isso levará a um aquecimento global continuado e a um colapso ecológico’”, comenta Ricardo Ciardella, diretor de Specialty da Marsh Brasil.

Ricardo Ciardella, diretor de Specialty da Marsh Brasil

Segundo ele, a falha em mitigar e adaptar-se à mudança climática, aos desastres naturais, perda de biodiversidade e degradação ambiental representa cinco dos dez riscos principais.

“A perda de biodiversidade é considerada como um dos riscos globais em deterioração mais rápida durante a próxima década”.

“Do lado do seguro a Marsh tem desenvolvido algumas coberturas para endereçar o tema ambiental, como por exemplo a GREEN CLAUSE nas apólices patrimoniais, mas acreditamos que seja necessária uma agenda específica para essa temática”, diz Ciardella.
Segundo ele, torna-se cada vez mais importante que as empresas identifiquem, gerenciem e implementem medidas relacionadas aos Riscos Físicos (aqueles motivados por fatores climáticos extremos) e Riscos de Transição para uma economia mais sustentável (aqueles motivados por questões de regulação/legal, tecnológico, mercado/financeiro e reputacional).

Principais eventos que caracterizam um risco político*

– Confisco, expropriação ou nacionalização de bens;

– Imposição de embargos ou cancelamento de autorizações/licenças de exportação/importação;

– Terrorismo, agitação civil, guerra e atos de violência relacionados;

– Restrições à movimentação de divisas através das fronteiras;

– Não pagamento/não performance por parte do governo ou de entidades estatais;

– Chamamento indevido de garantias de proposta ou de execução em contratações ou concessões públicas, por motivos infundados ou políticos;

– Revogação unilateral dos direitos de concessão.

* Fonte: Aon Risk

Conteúdo da edição de setembro (257) da Revista Cobertura

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